Anarquismo y luchas sociales en Colombia

Anarquismo e lutas sociais na Colômbia

[Resumo da palestra dada pelo anarquista colombiano Marco Sosa, em 14 de outubro de 2006, em Gijón, Espanha. Marco é membro do Centro de Estudos Libertários de Bogotá e do Coletivo de Refugiados "Luciano Romero", atualmente se encontra no Estado espanhol na qualidade de perseguido político e acolhido no marco de um programa de proteção. Além disso é ativista da Campanha Mundial Contra a Coca-Cola.]

Antes de começar a desenvolver o tema da conversa, devido à que na Europa não sabemos muito sobre a história social e a tradição revolucionária colombiana, M. deu algumas anotações de modo que entendêssemos o contexto atual e de onde vem essa situação.

Na Colômbia existe um conflito entre a guerrilha e o estado desde há 50 anos, embora realmente este conflito venha já de muito tempo atrás, é um conflito de profundas raízes econômicas e políticas, que se pode remontar quase à colonização da Colômbia pela Espanha. Existem várias guerrilhas, ainda que as mais importante são: as Forças Armadas Revolucionário da Colômbia – o Exército do Povo (FARC-EP), a mais antiga, é uma guerrilha de caráter marxista-leninista, que conta atualmente com uns 20.000 combatentes; e o Exército de Liberação Nacional (ELN), marxista e foguista, inspirado pela revolução cubana, conta atualmente com uns 5.000 combatentes.

Uma vez colocada essa situação começa a falar exatamente do anarquismo, que chega na Colômbia em 1886, sendo as idéias libertárias mais estendidas num primeiro momento às do mutualismo de Proudhon, a partir das quais artesãos e outros trabalhadores se organizam por meio das chamadas sociedades democráticas.

Também o anarcosindicalismo chega a Colômbia pouco depois, provavelmente pela influência da Confederação Nacional do Trabalho (CNT). Haviam vários coletivos anarcosindicalistas como, por exemplo, a Antorcha Libertária, mas não se chegou a formar uma grande federação na Colômbia. Também aqui temos que mencionar a Raúl Eduardo Mahecha, provavelmente o sindicalista mais importante do movimento dos trabalhadores colombianos, um socialista com influências libertárias, que fundou em 1924 a União Sindical Obreira.

Entre os anos 30 e 60 começou uma travessia no deserto para o movimento libertário colombiano, devido a dois fatores: por uma parte a repressão estatal, e pela outra o auge do comunismo marxista devido sua popularidade a partir da revolução russa e da formação da URSS. Isso não foi até o fim dos anos 60, quando ressurgiu o anarquismo devido à influência da rebelião trabalhadora e estudantil do Maio de 68 na França. Em contraposição ao anarquismo que tinha triunfado anteriormente na Colômbia, neste ressurgimento predominam as idéias individualistas.

Nos anos 70 é retomada a tradição do anarcosindicalismo, mesmo que com força escassa. Chegaram os anos 80, muitos libertários decidem entrar e formar parte das distintas guerrilhas, principalmente o ELN, onde entrou parte da organização anarquista Antorcha Libertária. Embora em medida muito menor também alguns libertários uniram-se com as FARC ou ao M19.

Nos anos 90 segue a luta e se pode distinguir em duas frentes: por um lado o estudante universitário, mais centrado na difusão e agitação cultural, e por outro lado uma organização chamada Anarquista ao Combate, que se centrava mais na ação.

No ano 2000 foi organizada umas Jornadas Libertárias em Bogotá que pretendia ser o ponto de encontro para todos os libertários. Essas jornadas tiveram muita repercussão, maior do que esperavam os organizadores, acudindo muitas pessoas, sobretudo jovens da capital e dos arredores.

Pouco depois surge a Coordenadoria Bandeiras Negras que reúne várias organizações anarquistas como a Cruz Negra Anarquista, o Centro de Estudos Libertários etc. Depois de vários anos de atividade esta organização chega num ponto em que devido ao grande crescimento experimentado abriga opiniões muito diferentes de como focalizar a luta, que torna difícil que continue a funcionar como até então. Um setor pretende uma luta apoiada em ONG’s e outras coisas, enquanto que o outro considera que se deve continuar com o trabalho de base propondo uma alternativa revolucionária. Esta divisão é dada provavelmente porque o crescimento quantitativo (número de militantes) não foi acompanhado pelo crescimento qualitativo (formação dos militantes).

A modo de despedida, a coordenadoria decide chamar unitariamente à manifestação de 1º de Maio de 2005. Nessa manifestação é formado um grande bloco anarquista, que recebe uma carga muito violenta da polícia. Nessa repressão recebe uma forte surra Nicolás Neira Álvarez, que depois de vários dias em coma, falece assassinado pela polícia aos 15 anos de idade.

Atualmente um dos núcleos principais de libertários é o Centro da Cultura Libertária, em Bogotá. Ali se desenvolvem várias atividades durante a semana, ademais de ser o lugar onde se reúnem vários coletivos libertários da região.

Quanto a sindicalismo, há muitos anarquistas em sindicatos como SINALTRAINAL, que apesar de não ser anarcosindicalista é um sindicato muito combativo, devido a que muitos de seus militante foram assassinados por pistoleiros das multinacionais, sendo um caso tristemente conhecido o da Coca-Cola. Na última manifestação de 1º de Maio em Bogotá há alguns meses, o bloco libertário contou com cerca de mil pessoas, superando inclusive às Juventudes Comunistas.

Finalmente M. explicou-nos como ele vê a solidariedade. Existem três tipos de solidariedade: por um lado à solidariedade cristã, em que se apóia o necessitado por pena, de forma caridosa; por outro lado está a solidariedade burguesa que consiste em dar as migalhas aos que menos tem; e finalmente está a solidariedade revolucionária, que é a que é dada entre os que querem derrubar o sistema injusto. Esta deve ser a que devemos colocar em prática. Na Colômbia a metade da população vive com menos que um euro e meio ao dia, mas aqui a maioria das pessoas tem uma hipoteca que arrastará toda a vida. Sem a exploração do terceiro mundo não seria capaz de manter o primeiro, então assim são duas caras de uma mesma luta, portanto a de solidariedade internacional é algo básico.

Por último houve uma rodada de perguntas, em que basicamente foi falado das guerrilhas e da repressão, dois temas muito ligados, já que ali se criminaliza aos revolucionários dizendo que formam parte da guerrilha para assim então logo reprimi-los.

As FARC tem atualmente uns 7.000 prisioneiros, os quais não são reconhecidos como prisioneiros políticos pelo governo de Uribe. Também há que se levar em conta os vários milhares de militante assassinados da União Patriótica, partido político incitado pelas FARC nos anos oitenta, que supôs praticamente a aniquilação física do partido.

Os anarquistas também sofrem uma grande repressão. Seus locais são vigiados pela polícia ou por paramilitares, e em muitas ocasiões são nivelados com as guerrilhas. Também os militantes libertários são seguidos pela polícia tratando de amedrontá-los, ameaçados por telefone, e mesmo algumas vezes seqüestrados e torturados.

Durante a mudança de perguntas também surgiu um tema de que no ocidente é muito falado referindo-se a Colômbia: o narcotráfico. Segundo nos explicou M., as FARC sim negociam a coca, enquanto o ELN não faz isso por não considerar ético. Outro companheiro colombiano ali presente comentou que as FARC não trafica diretamente com a coca, mas que cobram um imposto pelo comércio da coca cultivada em sua zona de controle. Além do mais no ocidente não se fala que, por exemplo, dois dos coronéis do exército colombiano são patrões do narcotráfico, ademais de que Álvaro Uribe também tem tratos de favores com os traficantes de drogas.

Por Coletivo Libertário Cizalla

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