Serve o presente e-mail para divulgar e para convidar-vos a estarem presentes nas Jornadas contra a Violência do Estado – Prisões de Mulheres, acção de 2 dias, que enquanto Comité de Mulheres da Plataforma de Solidariedade com os Povos do Curdistão [1] estamos a organizar com o apoio das Rata Dentata [2] para os dias 12 e 13 de Janeiro no espaço do Disgraça [3].
Estas jornadas, que nascem em resposta a um pedido internacional de solidariedade do movimento de mulheres Kurdas, relembram o dia 9 de Janeiro como o dia em que as activistas kurdas Sakine Cansız, Fidan Doğan e Leyla Şaylamez foram assassinadas, no centro de Paris, numa colaboração entre serviços secretos internacionais e o regime turco. Este que é um dia tido como de memória e de denúncia, é também uma dedicatória que fazemos a todas as mulheres no mundo que têm feito grandes sacríficios ou que perderam as suas vidas em actos de resistência política. Foi por isso cunhado por “Dia para a Acção Comum contra Assassinatos Políticos de Mulheres”.
Nós do Comité, que estamos na organização destas jornadas, entendemos a necessidade de expandir e pensar o problema da violência do Estado nas suas dimensões Prisional, Segregadora e Punitiva, e a necessidade de se trazer à leitura quer expressões locais, quer internacionais, de como o Estado cria as várias prisões às quais nos condena; as mesmas onde nos procura subordinar às suas lógicas do poder e da multiplicação da violência.
Esta acção procura assim abordar estes problemas a partir da posição do sujeito mulher, e por isto, convidámos a estarem presentes nestas jornadas mulheres envolvidas em lutas contra os despejos em bairros segregados em lisboa, mulheres envolvidas em lutas indígenas nas Honduras, mulheres kurdas que trabalham no movimento internacional da luta das mulheres kurdas, entre outras.
É importante para nós que estas pessoas tenham voz e que falem na primeira pessoa sobre as suas experiências e resistências de forma à criação de consciência, apoios e mecanismos de solidariedade para com as suas lutas.
Cumprimentos Solidários, pelo Comité de Mulheres da Plataforma de Solidariedade com os Povos do Curdistão
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A 9 de Janeiro de 2013, 3 activistas kurdas foram perfidamente alvejadas e massacradas em Paris, a mesma cidade onde a Comuna de Paris já foi possível e uma cidade com historial reconhecido de resistência das mulheres. As activistas kurdas Sakine Cansız, Fidan Doğan e Leyla Şaylamez foram assassinadas, no centro de Paris, numa colaboração entre serviços secretos internacionais e o regime turco. A mentalidade machista e o sistema de Estado-Nação atingiram não só estas 3 kurdas com este atentado mas também todxs aquelxs que lutam e resistem pela libertação das mulheres em todo o mundo.
O 9 de Janeiro é então tido como um dia em que relembramos os assassinatos de Sakine Cansız, Fidan Doğan e Leyla Şaylamez e o dedicamos a todas as mulheres no mundo que têm feito grandes sacríficios ou que perderam as suas vidas em actos de resistência política. Este dia foi cunhado “Dia para a Acção Comum contra Assassinatos Políticos de Mulheres”.
O Estado é violência que se valida a ela mesma continuamente e que, portanto, precisa de reprimir, matar e aprisionar quem quer que se lhe oponha.
Com este evento, pretendemos focar-nos na forma como o Estado veicula violência, a partir da produção das várias prisões a que nos condena; neste caso, pensadas e faladas a partir da posição do sujeito mulher.
O objectivo destas jornadas de dois dias é assim o de visibilizar as lutas e situações de vida de mulheres que sofrem violência por parte do estado-prisão em portugal e no mundo. Entendemos prisão num sentido lato e não restringido somente à dimensão judicial, ou carcelária, que também serão visibilizadas. Prisão de estado pode ser o corpo, a identidade ou segregação racial geográfica e/ou económica, entre outrxs. Por isto, convidámos a estarem presentes nestas jornadas, mulheres envolvidas em lutas contra os despejos em bairros segregados em lisboa, mulheres envolvidas em lutas indígenas nas Honduras, mulheres kurdas que trabalham no movimento internacional da luta das mulheres kurdas.
É importante para nós que estas pessoas tenham voz e que falem na primeira pessoa sobre as suas experiências e resistências de forma à criação de consciência, apoios e mecanismos de solidariedade para com as suas lutas.
“No geral, as pessoas tendem a ver as prisões como algo inquestionável. É difícil imaginar a vida sem elas. Ao mesmo tempo, há relutância em encarar as realidades que se escondem dentro delas, um medo de pensar sobre o que nelas acontece. Assim, a prisão está presente nas nossas vidas e, ao mesmo tempo, ausente. Pensar nesta presença e ausência que acontecem em simultâneo é começar a reconhecer o papel desempenhado pela ideologia e como esta molda a forma como interagimos com o nosso contexto social. Vemos as prisões como uma realidade garantida mas temos muitas vezes medo de lidar com as realidades que elas produzem. Afinal, ninguém quer ir para a prisão. Seria demasiado agoniante lidar com a possibilidade de que alguém, incluindo nós mesmxs, pode ser umx prisioneirx; temos tendência para ver a prisão como algo que não existe nas nossas vidas. Isto é verdade até para algumxs de nós, mulheres e homens, que já viveram aprisionadxs.” – Angela Davis (tradução livre de um excerto do livro “Are prisons obsolete?”)
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Programa:
12 JAN:
18h – abertura das jornadas e apresentação do programa
19h – filme “Sozdar, she who lives her promise”
Acompanha a luta de Nuriye Kesbir, umx dxs líderes do movimento de resistência curdo do PKK, durante a sua vinda à Europa para ajudar a organizar a luta das mulheres curdas na Europa. Ao ser cidadã de uma nação sem estado e membrx de uma organização considerada como terrorista pela UE, Nuriye sofre de perseguição judicial com vista a deportá-la de volta para a Turquia, tendo assim de lutar contra o estado holândes e o estatuto de ilegal neste país.
(duração: 1h10; legendado em inglês)
20.30h – jantar vegano
21.30h – apresentação+conversa: ‘As prisões e as mulheres em portugal’
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“O caso da Maria de Lurdes”, pela Assembleia Feminista Lisboa [4]
13 JAN:
15h – oficina de escrita de cartas para presxs + apresentação de zine sobre presas políticas curdas e escrita de cartas a presas; pelo Comité de Mulheres da Plataforma com Rata Dentata [2]
16h – filme, “Another Lisbon story”, e conversa com a presença do realizador.
O Bairro da Torre é um distrito de génese informal, nascido em terras tanto públicas como privadas ao lado do actual aeroporto de Lisboa, como resultado de uma ocupação ilegal por populações portuguesas, africanas e ciganas. Estas casas não legalizadas, são o resultado da ausência de uma política que não conseguiu responder nos últimos anos às deficiências e necessidades dessas populações com baixa renda. A busca de soluções menos tradicionais torna-se o meio alternativo pelo qual se tenta “resolver” o problema da casa.
Este documentário procura seguir o processo de luta dxs moradorxs por dignidade e contra a violência da exclusão produzida na sociedade portuguesa.
17.30h – rodas de conversa:
Mulheres em luta contra os despejos e por uma vida digna em lisboa – histórias de bairros oprimidos
As lutas indigenas nas Honduras e o estado da repressão no país
As lutas das mulheres kurdas
20.30h – jantar vegano
21.30h – apresentação + conversa: ‘a luta das mulheres kurdas e o porquê da necessidade de uma alternativa ao Estado?’
(nota: esta actividade vai acontecer em inglês, com possibilidade de tradução)
(nota: programa em desenvolvimento; mais informações serão acrescentadas nos próximos dias)
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Não serão toleradas agressões machistas, trans/bi/homo/lesbofobicas, racistas, capacitistas ou especistas. Se te sentires alvo de agressão poderás partilhar isso com os coletivos presentes para que te ajudem. Pessoas agressoras serão responsabilizadas e poderão ser expulsas do evento se tal for necessário para re-establecer um espaço mais seguro para todxs.
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Em termos de acessibilidade a pessoas com diversidade funcional, convém referir que a saída mais próxima do metro Anjos não dispõe de elevadores para a superfície. Da saída do metro até ao Disgraça (Anjos > Rua de Angola> Rua de Cabo Verde > Rua Heliodoro Salgado > Rua da Penha de França) a distância é de cerca de 930 metros (280m planos + 650m a subir), o acesso é feito ou pela estrada ou pelos passeios, em calçada, que apresentam pouca largura e bastante inclinado.