@s anarquistas contra a pátria

Anarquismo e Independentismo vs. Nacionalismo. ¿Cómo afronta el Anarquismo la existencia de "naciones" y "movimientos de liberación nacional"?
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eu
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@s anarquistas contra a pátria

Mensaje por eu » 24 Jul 2009, 10:46

Mais um ano convoca-se-nos ao dia da pátria e a todas as celebrações de exaltação que o acompanham, e que reproduzemos valores que tão claramente definem ao autor do hino nacional galego: suprematismo racia, patriarcado, religiosidade... Como anarquistas, não podemos, já não apenas deixar de partilhar estes festejos, mas condená-los decididamente ao lado de todo o sentimento patriótico que pretendem prender. Muito longe do nosso ánimo reproduzir a velha idiócia do punki nilista. Um patriota não é um idiota. Um patriota é uma coisa pior: um burguês encaramado no poder e defensor da sua posição de privilégio. Tambem pode ser uma coisa mais trágica: uma vitima duma estrutura ideológica que manipula às classes operárias contra os seus próprios interesses.
De sempre, @s anarquistas se têm oposto á pátria e a todo quanto de escravidão esta ideia traz aparelhado. A pátria não é senão un conceito burguês com o que se procura estender o domínio classista às consciências da população toda. É simplesmente um subterfígio do novo poder burguês nascido após as revoluções industriais que trata de criar um sentimento de pertença da população inteira, em todas as suas classes oprimidas e opressoras, a um ente superior que as engloba e as iguala por cima da sua confrontação essencial. De tal forma, não so permite estender esta dominação ao permitir super-pôr o bem do ente-pátria aos interesses das classes pela asimilação do ente-pátria com o ente-poder (isto e não outra coisa está trâs da soberania nacional), mas tambem legitimar ações de violência em todo o sentido, já contra outras pátrias (violência bélica), já contra os elementos perturbadores da paz da pátria e ameaçadores da sua estabilidade (violência policial) e mesmo faz que as classes populares suportem essa violência com paciência passiva e até partilhem a violência sistémica nos seus niveis mais baixos.
Hoje mais do que nunca @s anarquistas nos oponhemos à pátria e a todo o que traz consigo; a qualquer pátria e à que nos obrigam a padecer: a galega. Embora a especial situação política da pátria galega, despojada do poder que sim goçam outras soberanias nacionais, @s anarquistas nunca poderemos partilhar nenhum tipo de desejo de tomada do poder político, nem de independência que leve à criação de um outro estado com todas as suas estruturas de exploração e repressão, ou sequer com qualquer delas. Entendemos que a auto-determinação se exerce no plano pessoal, que é o primeiro plano da vida social, e que é o princípio reitor de toda a construção social, princípio que não é renunciável nem diluível via plebiscito nem regime parlamentar, e que os povos e as suas relações se artelham pelo caminho da livre federação e da simetria.
@s anarquistas oponhemo-nos ao sentimento de exclussão que o particularismo patriota traz necessariamente da mão, e que se concretiça na xenofobia e na fronteira. Nós valorizamos todas as formas culturais e gostamos de gozá-las em harmonia, sem nenhuma que se colocar acima de outra, e resaltamos o valor intrínseco da multicultaridade. Ao tempo, defendemos o direito de cada quem a viver onde quixer. Entendemos que nenhum grupo tem primacia nem poder sobre nenhum território, que o lugar de nascimento não facilita direito nenhum, que cada quem tem direito a sentir como própria e a viver com plenitude a terra na que mora. Por isso condenamos a existência e mantemento de qualquer tipo de fronteira sostido sob o motivo que for, racial, económico, militar...
Oponhemo-nos ao sentido de poder que a pátria traz consigo. Oponhemo-nos a qualquer independência nacional, na que não vemos nenhum valor e nenhuma solução, e sim uma deturpação inter-classista das lutas populares, desviando-as de seu objeto de emancipação em quanto força de trabalho e trocando este pela emancipação do conjunto nacional, com uma estratêgica confluência que se tornará trágica com as classes burguesas em pós da consecução da chamada emancipação nacional, que não significa senão a instauração de um novo poder. Aliás, a criação duma nova fronteira e de todo seu sistema de exclussão a respeito do exterior não pode ser defendido. Entendemos que se deve pular no sentido contrário, o da disolução do poder, e a imposição dun sentido de liberdade nas relações comunais, sentido plenamente ausente nas lutas de liberação nacional, que em troca de criar novas formas de suprematismos e perpetuar os existentes, sentará as bases do convívio do diferente.
Isto não significa nem pode significar o abandono na defesa radical da nossa cultura, a que consideramos própria, nem de qualquer outra, ante o ataque de qualquer estrutura que se lhe intente pôr acima. Reclamamos a posibilidade de existência para qualquer forma de cultura e definimos como principal culpável desta asimetria da imposição precisamente à ideia de pátria e da fagocitação que realiza das formas de cultura para identificá-las a formas nacionais que reproduzem nas suas relações toda a violência e exclussão do enfrentamento entre poderes.
Oponhemos, em definitivo, à pátria o sentido universalizante da livre federação, que emana desde a auto-constituição de indivíduos livres e a defesa do pacto livremente asumido em todos os níveis relacionais, desde o puramente pessoal ao ponto mais alto da construção social. Entendemos que isto não é possível sem a paralela emancipação económica das classes operárias, as únicas que reconhecemos como sujeitos de direito, que no seu processo de liberação constituirão novas formas sociais desde a negação do poder.

Compostela
24 de Julho de 2009

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